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Doenças crônicas: o desafio deste século
José Marcio Soares Leite
Doenças crônicas são aquelas geralmente de desenvolvimento lento, de longa duração e, por isso, levam um tempo mais longo para serem curadas ou, em alguns casos, não têm cura. A maioria dessas doenças está relacionada ao avanço da idade e ao estilo de vida – maus hábitos alimentares, sedentarismo e estresse – característicos das sociedades contemporâneas.
Atualmente, as doenças crônicas são a principal causa de mortalidade no mundo, representando 60% das mortes. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que cerca de 75% das pessoas com mais de 60 anos no Brasil têm alguma doença crônica e, para o Ministério da Saúde, esta é a principal causa de óbito no país. Se nada for feito para gerenciar as doenças crônicas, em 10 anos, as mortes em decorrência delas aumentarão 17%.
Em seu mais recente livro, As Redes de Atenção à Saúde, o Professor Eugênio Vilaça Mendes, descreve com muita propriedade, a situação de saúde decorrente do que ele denomina a tripla carga de doenças existente no Brasil, que compreende o grupo de doenças infecciosas, parasitárias e a desnutrição, as decorrentes dos acidentes e de violências, as doenças de origem materna e perinatal e as doenças crônicas, que já respondem por 66,3%, da morbidade geral no Brasil e com tendência crescente, face ao envelhecimento progressivo da população.
Em outras palavras, conclui-se da descrição do Professor Vilaça, que neste século XXI, as doenças prevalentes são as crônicas, que geralmente são tratadas ambulatorialmente, devendo-se evitar sua agudização, o que exige atendimento hospitalar, de alto custo.
O câncer, as doenças respiratórias, as doenças cardiovasculares, a hipertensão e o diabetes, que matam no mundo cerca de 35 milhões de pessoas por ano, têm como causa fatores determinados também pelo estilo de vida da população, ao incluir, no dia-a-dia, o tabagismo, alimentos com alto teor de gordura, sal e açúcar e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
O tabagismo, por exemplo, foi considerado pela Organização Mundial de Saúde uma “doença pediátrica”, pois dos 1,1 bilhão de fumantes no mundo, 90% começaram a fumar até os 19 anos. Em 2009, a Pesquisa Nacional sobre Saúde do Escolar mostrou que 24,5% dos escolares entre 13 e 15 anos haviam experimentado cigarros e que 71,4% tinham provado bebidas alcoólicas; 6,7% deles eram tabagistas regulares e 27% eram consumidores de bebidas alcoólicas. Em 2008, 35% dos meninos e 32% das meninas brasileiras entre 5 e 9 anos estavam com sobrepeso, segundo Luís Antonio Santini e Tania Cavalcante em Saúde, Consumo e Ambiente, artigo publicado na Folha de S.Paulo em 23/10/2011.
Essas doenças são barreiras para o alcance dos Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento, o que levou o tema a ser incluído na pauta da reunião de chefes de Estado promovida pela Organização Mundial da Saúde na ONU em setembro deste ano.
Estima-se que cerca de 80% das mortes por doenças crônicas ocorrem em países de baixa e média renda. Nessa reunião, a Presidente Dilma Rousseff mostrou que no Brasil o número de fumantes caiu de 34% em 1989 para 15% em 2010, com redução de mortes por doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e câncer de pulmão. A meta é reduzir mais ainda esse percentual, chegando-se a 2022 com 9% apenas.
As doenças crônicas não-transmissíveis, como o câncer e as doenças cardiovasculares e pulmonares, além do diabetes - são responsáveis, enfatizou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pela morte de três em cada cinco pessoas no planeta. Os custos ao combate destas doenças já estaria próximo aos US$ 30 trilhões, quase 40% do PIB mundial.
O homem é parte do ambiente em que vive. Os agravos sobre a saúde do planeta e a saúde humana têm causas interligadas. Para resolvê-los, é imperativo que os países adotem políticas integradas para deter a escalada das doenças crônicas não transmissíveis.
Médico. Professor Doutor em Ciências da Saúde e Membro da AMM, AMC, IHGM, APLAC, SBHM, SMHM, da FBAM e Conselheiro do CRMMA.
Fonte: Jornal O Estado do Maranhão de 06/11/11.