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28.12.2009

A Hora e a Vez ...!

                                                                    José Márcio Soares Leite*
              O livro Sagarana reúne uma coletânea de contos de cunho regionalista em que se verifica toda a criatividade de Guimarães Rosa, no que diz respeito à sua linguagem literária e às suas técnicas narrativas. Um desses contos, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, é  uma história rica em alegorias e questionamentos de cunho universal, que nos fazem refletir acerca dos eternos conflitos interiores e exteriores vividos pelo homem. 
                Lembrei-me do livro de Guimarães Rosa e, parafraseando-o, escrevo a Hora e a Vez dos maranhenses esquecidos de Sucupira do Riachão, na Região do Sertão Maranhense; de Boa Vista do Gurupi, na Região do Baixo Turi; de Vila Nova dos Martírios, na Região dos Carajás; de Água Doce do Maranhão, na Região do Delta do Parnaiba; de Tasso Fragoso, na Região dos Gerais de Balsas e de aproximadamente outros 60 ( sessenta ) municípios maranhenses, cujos munícipes não têm direito à atenção integral à saúde, apesar de ter sido criado, desde 1988, como decorrência do movimento   denominado Reforma Sanitária Brasileira, o Sistema Único de Saúde-SUS, que tem como princípios basilares a universalidade do acesso aos serviços de saúde, a descentralização, a integralidade da atenção à saúde, a equidade e o controle social.
          As populações desses municípios, até hoje, a exemplo da saga de Augusto Matraga, tão bem narrada por Guimarães Rosa, resistem a tudo e a todos, apesar de terem ficado à margem dos avanços da medicina do século XX, sem acesso a exames clínicos específicos, que lhes poderia prolongar a vida com qualidade, assim como a muitos procedimentos básicos da atenção primária em saúde, já que nesses municípios as parturientes, por exemplo, sequer dispõem de atendimento médico pré-natal e o parto não pode ser realizado numa unidade hospitalar, enquanto as crianças ficam à mercê das infecções respiratórias e das diarréias.
             Em São Luís, os governos, as organizações religiosas e entidades civis, priorizavam a construção e instalações de hospitais, como o Hospital da Misericórdia, fundado em 1653 pelo Padre Antonio Vieira; como o Hospital Militar, hoje Hospital Geral do Estado, Dr. Tarquínio Lopes Filho; o Hospital São José da Caridade, posteriormente Santa Casa de Misericórdia do Maranhão e o Hospital Português.
            No governo do Dr. Paulo Ramos foram instalados os Hospitais Aquiles Lisboa, Nina Rodrigues, Infantil Juvêncio Matos, Presidente Vargas, o Hospital do Pronto Socorro (Socorrinho) e a Maternidade Benedito Leite, na capital.

                Em 1951, completando esse ciclo de construção/instalação de hospitais na capital do Estado, o Presidente Eurico Gaspar Dutra, inaugurou o Hospital que em sua homenagem tem o seu nome. Posteriormente, foram instalados o Hospital do Câncer, Aldenora Belo, por iniciativa do médico Antonio Jorge Dino,  assim como a Maternidade Marly Sarney e o Hospital Djalma Marques (Socorrão), no governo Pedro Neiva de Santana e o Hospital da Criança “Odorico Amaral de Matos”, na gestão Conceição Andrade como Prefeita de São Luís. No entanto, ficaram à margem dos avanços na área da saúde os habitantes da maior parte das regiões interioranas.  

               Recorro ao Professor e historiador Mario Meireles (Dez Estudos Históricos, 1994), que nos informa que o recenseamento de 1950 no Maranhão apontou que, dos 89  municípios do Estado, apenas 03 (três) do interior, Cururupu, Coroatá e Barra do Corda, tinham hospitais.

             Os governos posteriores cuidaram de construir alguns Hospitais Regionais em municípios de maior densidade populacional, como o de Imperatriz, o de São João dos Patos, o de Caxias e o de Bacabal, mas que hoje contam com instalações insuficientes e precárias para atender à demanda local.

              A Governadora Roseana Sarney, portanto, ao autorizar à Secretaria de Estado da Saúde a adoção das medidas necessárias à interiorização da saúde, com a construção e instalação de 65 (sessenta e cinco) Unidades Hospitalares, nos rincões mais distantes do Maranhão, para fazer chegar a essa parcela da população maranhense desassistida condições condignas de saúde, insere-se na história da Medicina no Maranhão, pela iniciativa arrojada que se coaduna com as políticas públicas voltadas ao bem-estar do  cidadão, haja vista a premente necessidade de fazer valer a Constituição Federal.  Ao mesmo tempo, cria condições para o aproveitamento, no mercado de trabalho, de uma gama de profissionais da área da saúde. 

            A oportunidade de acesso aos serviços de saúde que serão implantados significa a reversão do triste quadro médico-sanitário a que estão submetidas as populações desses municípios. Chegou, portanto, a hora e a vez.

• Médico. Professor MS em Ciências da Saúde. Conselheiro do CRM/MA. Membro das Academias de Medicina, Ciências, Pinheirense de Letras, Artes e Ciências e `sócio Efetivo do IHGM.

       Publicado do Jornal O Estado do Maranhão de 20129 (Domingo)

 

 

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