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08.11.2010

O MÉDICO DO SUS

Pode parecer supérfluo comentar alguns conceitos que, após ampla discussão entre os vários segmentos do movimento médico, vieram contribuir para que se adotem medidas para o aperfeiçoamento e a qualificação do sistema de saúde pública e privada no Brasil. Refiro-me às propostas aprovadas no XII Enem: Formação Médica, Mercado de Trabalho e Remuneração e SUS, Políticas de Saúde e Relação com a Sociedade.

Outra consideração preliminar que se deve fazer é que, perante um tema tão abrangente, não é possível se apresentar dados sobre indicadores de saúde ou fazer uma análise mais aprofundada sobre o assunto, em um texto que tem a intenção de provocar o leitor e fazê-lo refletir a respeito dessa questão.

Se por um lado, tal abordagem, possa restringir o impacto dos argumentos apresentados, por outro reflete a realidade do sistema em que se vive e trabalha.

Tem-se a noção exata que o sistema de saúde é subfinanciado, que a precarização do trabalho médico é a regra, que os serviços de urgências e emergência médicas estão superlotados e, conseqüentemente, sucateados, que as condições estruturais de atendimento são péssimas, que as nossas escolas médicas têm deficiências e que os profissionais egressos dessas escolas não têm a qualificação necessária para atender a população sem colocá-la em risco, que as vagas para residência médica são insuficientes para atender a demanda dos formandos, que os gestores, na maioria das vezes, não têm compromisso com a classe médica e com a defesa dos interesses da sociedade e que na prática tem-se um acesso desigual, sem eficiência, sem eficácia, sem equidade, sem integralidade e, porque não afirmar, um sistema que mata em vez de salvar vidas.

Feito o diagnóstico, quais as medidas terapêuticas para tratar de problema tão complexo?

Considero o Sistema Único de Saúde – SUS um paciente politraumatizado e instável, ou seja, aquele paciente que necessita de medidas urgentes de controle de danos e posteriormente um planejamento adequado do tratamento definitivo.

A morte provocada pelo trauma tem uma distribuição trimodal. A vítima pode morrer imediatamente após a agressão em virtude da gravidade dos ferimentos. Alguns minutos ou horas após se não tiver um atendimento adequado e mais tardiamente em decorrência de complicações infecciosas ou de insuficiências orgânicas múltiplas.

O fato é que a experiência mostra que uma parcela significativa das mortes se deve a erros ocorridos no atendimento inicial.

Assim é o nosso SUS. Em alguns setores já nasceu morto. Em outros sobrevive à custa de medidas e procedimentos incompatíveis com as suas reais necessidades e é apenas uma questão de tempo para entrar em falência. O exemplo que melhor reflete essa situação é a superlotação hospitalar.

Ou o governo assume o papel de médico do SUS com a devida competência ou continuará sendo responsável pela morte de milhares de pessoas a um custo exorbitante de sofrimento e de recursos.

Adolfo Paraiso

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