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10.03.2008

Produzir para Libertar


                                      José Márcio Soares Leite*

                Plantar tâmaras, para colher frutos daqui a cem anos? Como, se já se decidiu que todos teremos de plantar abóboras, a serem colhidas daqui a seis meses? . A pergunta do filósofo-historiador (Alves,R. em Conversas para quem gosta de ensinar) faz sentido quando se trata de discutir processos sociais, de longa maturação, incompatíveis com a ocorrência de eventos discretos, bruscos, determinados, seja por manifestações de grupos de interesse,seja por construções ideológicas de curto prazo.
                Lembrei-me desse questionamento em razão da prática imediatista vigente em nosso país, de que mais doenças e mais doentes devem ser enfrentados com mais e mais serviços de atenção médica, independentemente de que os fatores condicionantes e determinantes estejam orientados para a produção social das enfermidades.
             A lógica dessa prática sanitária está em que o sistema de saúde responde socialmente aos problemas sanitários da população, no âmbito estrito das conseqüências das perdas do estado de saúde, mediante oferta de serviços de atenção médica.
                Mais leitos hospitalares, mais médicos, no dizer de Bob Rae, Premier do Canadá em 1994, não é a receita, e sim mais atenção a todos os determinantes da saúde _ emprego, habitação, estilo de vida, renda _é o caminho a seguir, o que conhecemos como produção social em saúde.
                        Na literatura internacional, já se encontram numerosas propostas e sugestões para reorientar a saúde na perspectiva da Produção Social. Um consenso importante é o caráter multiforme que ela precisa assumir, dadas a diversidade da natureza e a complexidade das relações humanas e da própria vida.
                    Não podemos, portanto, deixar de louvar, longe dos partidarismos e ideologias, essa iniciativa da Presidência da República de instituir o programa Territórios da Cidadania, que vai contemplar em todo Brasil, 23,9 milhões de pessoas, entre agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas, indígenas, famílias de pescadores e.comunidades tradicionais, escolhidos em razão de sua identidade cultural, econômica e produtiva.
                   Cremos que a partir da intersetorialidade desse trabalho e sua territorialização, possamos promover um desenvolvimento sustentável, por meio de uma cadeia produtiva que englobe educação, agricultura ou agroindústria, associativismo, além de estímulo à criação de micro e pequenas empresas de produção de insumos, gerando, em função do aumento da produção social, do aumento da renda familiar, mais saúde e não doenças.
                   O que é importante agora é a estratégia adotada para sua operacionalização, ou seja, o envolvimento de vários atores governamentais e não governamentais para que esse programa tenha êxito, e não uma ação isolada de Governo. Nesse contexto, é preciso que saibamos que existem no Brasil, muitas experiências bem sucedidas, desenvolvidas por organizações não governamentais.
                Em recente visita à cidade de Imperatriz Maranhão, como representante da Universidade Federal do Maranhão e integrando uma comissão interinstitucional composta de Órgãos de notável respeitabilidade e tradição de trabalho na área de desenvolvimento sustentável, como o SEBRAE, o Banco do Nordeste e a Caixa Econômica Federal, tivemos a felicidade de conhecer uma experiência notável, desenvolvida  por um grupo comunitário na área têxtil, que organizou uma microempresa denominada Fundação para o Desenvolvimento Comunitário-FUNDECO,  a partir de um Movimento  por eles desencadeado denominado Produzir para Libertar, à frente uma mulher corajosa e empreendedora D. Aurizélia  Bomfim Bezerra.
          Pedimos licença a D.Aurizélia e seu grupo, para utilizarmos o nome desse Movimento neste artigo, no intuito de demonstrar  que se as comunidades isoladamente são capazes de se organizar, muito mais poderão fazer,  desenvolver em parceria com os governos. É o que esperamos e confiamos.

* Médico, Professor MSc  em Ciências da Saúde da UFMA.Vice-Presidente do SINDMED-MA.

  Publicado no jornal o Estado do Maranhão, de Domingo-09/03/2008

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