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29.09.2008

Filas na Saúde, um eterno desafio.


                                                                                                                    Adolfo Silva Paraiso*

Tive a oportunidade de ler na edição do jornal o Estado do Maranhão do dia 21/09/08 as propostas dos candidatos à Prefeitura de São Luís para acabar com as longas filas de espera nos hospitais e marcação de exames.
As proposições que mais se destacaram nessa enquete foram: construir hospitais e recuperar a rede de unidades da saúde atual, implantação do cartão-saúde, ênfase na medicina preventiva, informatização e descentralização do sistema de marcação de consultas, contratação de novos profissionais, agendamento por telefone ou internet e orientar a demanda com hierarquização no atendimento por grau de complexidade para evitar a superlotação dos hospitais e centrais de marcação de consultas.
O que os candidatos não deixaram bem claro, bem explícito nessas entrevistas, foi a forma, ou seja, a estratégia a ser adotada para o cumprimento desses objetivos. Nesse sentido é bom lembrar, que as filas na porta dos hospitais não podem ser tratadas como um fato isolado e decorrente do desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
 Propostas que se concentram em desenvolver formas de regular o fluxo e administrar o tempo que os clientes estão propensos a esperar, mostram na prática que são ineficazes e levam sempre a uma insuficiência crônica da oferta o que vai se materializar em mais filas.
O ideal é que se desenvolva uma sistemática que resulte na extinção das filas sem que a relação oferta/demanda seja alterada e sem transferir a fila para o computador da Central de Marcação de Consultas.
A essência do problema é encontrar uma forma de regular a oferta (limitada pelos recursos disponíveis) e a demanda, de maneira que esta última não sature a primeira.
O gestor público deve, portanto, priorizar suas ações e adotar uma nova postura frente a essa problemática. O cenário de recursos humanos e materiais inesgotáveis nos órgãos públicos são utópicos e as filas não podem ser vistas somente como um problema exclusivo do aumento da demanda.
            O usuário, por seu turno, precisa participar de forma ativa neste processo não apenas com críticas, mas mudando hábitos de vida e conceitos relativos à visão hospitalocêntrica que tem sobre o atendimento médico, o que deverá ser feito mediante a participação do Conselho Municipal de Saúde.
A primeira etapa passa pelo planejamento e execução de um programa para a conscientização e educação do paciente da necessidade de haver mudanças culturais e comportamentais. É preciso mudar o conceito de que só o atendimento hospitalocêntrico apresenta bons resultados. Pelo contrário, a superlotação dos hospitais leva a uma precariedade do atendimento e, pior, às vezes sem qualquer resolutividade.
Deve ficar claro ao usuário que uma consulta ambulatorial não é um atendimento de urgência e, não sendo uma urgência, não há premência nesse atendimento, que pode e deve ser pré-agendado, ou seja, compreender que não será mais necessário entrar em estágio crítico para enfrentar a busca por auxílio médico
O uso de uma nova sistemática de marcação de consultas deve levar, pela transparência de critérios, à democratização do acesso e compromisso formal e, conseqüentemente a uma mudança comportamental na motivação de procurar pelo atendimento médico.
Um dos aspectos mais importante em todo esse processo de reconstrução da qualidade do atendimento médico na rede pública é a valorização do profissional e o investimento em recursos humanos.
Não adianta ter um sistema gerencial informatizado, transparente, modernas estruturas hospitalares com equipamentos de última geração sem a presença do profissional comprometido, motivado e qualificado para atender ao usuário do SUS.
Dessa forma, sugerimos ao futuro prefeito de São Luís que de imediato crie um Plano de Cargos Carreira e Salário da área da saúde com uma remuneração digna e compatível com a nossa responsabilidade, para que não se corra o risco de daqui há quatro anos estarmos a discutir e enfrentar os mesmos problemas.

Adolfo Silva Paraiso
* Médico, Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Maranhão.
     Publicado no jornal O Estado do Maranhão em 28/09/2008 (Domingo ).

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