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A POPULAÇÃO ENVELHECE, E AGORA ?
José Marcio Soares Leite*
Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um perfil de mortalidade típico de uma população jovem para um desenho caracterizado por enfermidades complexas e mais onerosas, próprias das faixas etárias mais avançadas. O fato marcante em relação às doenças crônicas é que elas crescem de forma muito importante com o passar dos anos: “entre os de idade de 0 a 14 anos, foram reportados apenas 9,3% de doenças crônicas, mas entre os idosos este valor atinge 75,5%”.
A cobertura dos planos de saúde entre os idosos, segundo esse estudo, é de aproximadamente 5 milhões de pessoas de 60 anos ou mais de idade, representando 29,4% do total da população nessa faixa etária. A clientela dos planos de saúde é predominantemente composta de pessoas de renda mais alta, ocorrendo o inverso entre os idosos que possuem apenas cobertura pelo Sistema Único de Saúde-SUS. Entre os idosos usuários do SUS, apenas 5,8% apresentavam um rendimento domiciliar de mais de três salários mínimos per capita.
O custo da internação per capita tende a aumentar à medida que a idade aumenta, passando de R$ 93 por idoso na faixa etária de 60 a 69 anos, para R$ 179 entre aqueles de 80 anos ou mais.
Os 20% de idosos mais pobres apresentaram, contudo, prevalência estatisticamente significativa menos elevada (69,9%) de doenças crônicas, do que os de renda mais alta 75%, aparentemente um paradoxo, porém os mais ricos terminam ingerindo uma dieta de maior teor de gorduras saturadas, ao que soma o sedentarismo.
Entre as doenças crônicas, os idosos são atingidos, em maior proporção, por enfermidades relacionadas a problemas do aparelho circulatório. Também chama atenção o aumento da morbimortalidade por neoplasias.
O que nos preocupa é que os grandes centros urbanos, embora já apresentem um perfil demográfico semelhante ao dos países mais desenvolvidos, ou seja, um aumento crescente da população idosa, ainda precisam melhorar a infraestrutura de serviços para dar conta dessa demanda por especialidades médicas e por serviços de apoio diagnóstico de alta complexidade tecnológica.
No caso específico do Maranhão essa preocupação é bem patente, pois enquanto a média nacional de gastos SUS em serviços de alta complexidade é da ordem de 15%, reconhecidamente incipiente frente à demanda, o nosso estado ainda está no patamar dos 7,5%, ou seja, 50% da média nacional. Cientes disso, a Governadora Roseana Sarney e o Secretário Ricardo Murad, por meio do Programa Saúde é Vida, estão ultimando as providências para a ampliação do Hospital Carlos Macieira na capital de 100 para 300 leitos, transformando-o em um Hospital de Alta Complexidade, ao que se soma a construção de mais dois hospitais de alta complexidade com 150 leitos cada em Imperatriz e Caxias e dois Centros de Alta Complexidade em Oncologia-CACON’s em São Luís e Imperatriz.
Em entrevista ao jornal Correio Brasiliense de 03 de setembro de 2009, um senhor idoso declarou: “graças a Deus não precisamos do SUS, porque temos um Plano de Saúde”. É evidente que o entrevistado está entre os 29,4% de sua faixa etária, que podem pagar o seu Plano de Saúde. Os demais 70,6% precisam e muito do SUS e de políticas públicas de saúde que priorizem o desenvolvimento de ações que possam garantir uma resolubilidade integral a essa clientela, com dignidade e humanização.
* Médico. Professor Msc em Ciências da Saúde e Secretário Adjunto de Regionalização dos Serviços de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde.
Publicado do jornal O Estado do Maranhão, de domingo, dia 12/10/2009.\\